ESPECIAL ABCP: As ações de Pernambuco no enfrentamento à pandemia

Este é o décimo quarto texto da 5ª edição do especial “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil”, publicado entre os dias 8 e 12 de fevereiro na página da ABCP. Acompanhe!

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Pernambuco: Navegando a Pandemia

Nome da autora e instituição a que está vinculada: Mariana Batista (Universidade Federal de Pernambuco)

Titulação da autora: Doutora em Ciência Política

Governador (Partido): Paulo Câmara (PSB)

População: 9.616.621

Número de municípios: 185

Casos confirmados em 31/01/2021: 261.300

Óbitos confirmados em 31/01/2021: 10.348

Casos por 100 mil hab.: 2.717,171

Óbitos por 100 mil hab.: 107,605

Data de início do Plano de vacinação: 13/01/2021

Acesse aqui o Plano de vacinação do estado


* Por: Mariana Batista

Mais de um ano de Covid-19. Comparando as unidades da federação, é possível observar no Brasil trajetórias e destinos diferentes. Alguns estados sofreram mais rapidamente e de maneia mais intensa os efeitos da pandemia e as implicações de uma gestão deficitária. Outros estados, apesar de não apresentarem resultados que possam ser considerados positivos, tem no momento situações menos catastróficas ou ao menos controladas. Esse é o caso do estado de Pernambuco. 

A gestão da crise do coronavírus em Pernambuco foi conduzida pelo governador Paulo Câmara do PSB. O PSB é uma força política dominante no estado desde os governos de Eduardo Campos, que fez o sucessor no governo do estado e também o prefeito da capital Recife. A maior parte das prefeituras também poderiam ser consideradas alinhadas. Esse elemento político, além da posição de oposição ao governo federal, gerou uma certa coesão e centralização na condução das decisões acerca da pandemia. 

As eleições de 2020 não alteraram expressivamente esse cenário, com a manutenção da capital nas mãos do PSB depois da chamada “batalha dos primos”, na qual João Campos (PSB) e Marilia Arraes (PT) disputaram o segundo turno pela prefeitura do Recife. A situação inusitada de parentes próximos disputando uma eleição foi aumentada pelo fato de os dois candidatos disputarem por partidos de centro-esquerda, de forma que a estratégia era a de “empurrar” o seu opositor para a direita. O resultado final deu a vitória a João Campos, acirrando a disputa no âmbito da centro-esquerda. Fica a dúvida quanto ao alinhamento ao governo Bolsonaro, dado que João Campos vem mantendo o discurso de oposição. Contudo, o estado de Pernambuco foi um dos que não esboçou movimentação para compra de vacinas dado o atraso do governo federal. 

Sobre o estado da pandemia, o primeiro caso em Pernambuco foi registrado no dia 12 de março de 2020 e no dia 17 de março os locais de trabalho foram fechados e no dia 18 de março as escolas. Na segunda metade do mês de maio o governo do estado decretou quarentena mais rígida nos municípios mais afetados por duas semanas. A figura 1 mostra a evolução da pandemia no estado, desde o seu início até o final de janeiro de 2021. 

 Figura 1: Evolução de Novos Casos e Óbitos de Covid-19 em Pernambuco

A figura mostra que o pico inicial da pandemia no estado foi no mês de maio. No dia 16 de maio foram confirmados 2.279 novos casos. O número máximo de mortes foi de 140 mortes no dia 27 de maio. Após o pico em maio, o número de novos casos e de óbitos começou a reduzir, em parte devido também a quarentema mais rígida implementada nas duas últimas semanas de maio. Após esse primeiro pico, o governo apresentou o seu plano de reabertura dos serviços dividido em 11 etapas onde a progressão de uma etapa para outra de maior abertura seria guiada pelos dados e evidências de cada região do estado. No início de novembro o governo do estado anunciou a progressão do estado para a etapa 11, que prevê o funcionamento de todos os serviços com total capacidade, autorizando também a retomada das aulas nas escolas. Protocolos de higiene e distanciamento social foram mantidos. Em dezembro novas restrições foram impostas, visando inibir aglomerações durante as festas de fim de ano. 

A tendência no número de casos manteve-se de queda até o mês de novembro. A partir desse mês o número de casos começou a subir, com novo pico de 2.512 casos confirmados no dia 30 de dezembro. Essa tendência de crescimento exponencial não foi observada da mesma forma que na primeira onda para o número de óbitos, que apresenta um leve crescimento a partir de dezembro. Esse resultado tem várias explicações possíveis. Uma delas é o aprendizado do governo e o preparo para lidar com a segunda onda. Contudo, uma segunda explicação é mais alarmante: a de que os efeitos do maior número de pessoas infectadas no mês de dezembro e a circulação de novas variantes mais infecciosas do coronavírus vão ser observados nos meses seguintes. A figura 2 mostra que o sistema de saúde parece estar mais preparado, dado não serem observadas filas por leitos. Contudo, a pressão começa a aparecer no mês de dezembro, chegando a 90% de ocupação. Em janeiro a taxa de ocupação se manteve abaixo desse número de alerta durante todo o mês. 

Figura 2: Situação do Sistema de Saúde – Taxa de Ocupação dos Leitos de UTI

As perguntas que ficam então é até quando será observada essa dissociação entre a curva crescente de casos e a curva relativamente estável de óbitos e até quando o sistema de saúde se manterá sob controle, atendendo a demanda por atendimento. O colapso no sistema de saúde do Amazonas, seguido por outros estados no norte do país mostram que a pandemia não está no passado. O desafio é fazer com que os governantes não atendam aos chamados de reabertura irrestrita quando há ainda perigo de descontrole. Além disso, dar condições para que as pessoas possam de fato se proteger, e isso considerando as desigualdades que fazem com que algumas pessoas possam praticar o distanciamento social enquanto outras têm que se expor em transportes públicos lotados e sem nenhuma assistência social. Por último, orientar os cidadãos da gravidade do momento. A figura 3 mostra o crescimento da circulação de pessoas em locais de comércio e lazer, que voltou quase a níveis pré-pandemia entre novembro e dezembro. Os números voltaram a cair em janeiro, talvez devido às notícias alarmantes vindas de outros estados. 

Figura 3: Medidas de Proteção - Circulação de Pessoas

O fim da pandemia só será possível com a imunização da população. Os cientistas fizeram a sua parte e ofereceram vacinas diversas em tempo recorde. Espera-se agora a atuação dos governantes. Em janeiro de 2021 a Anvisa aprovou o uso emergencial de duas vacinas no Brasil. Pudemos assim iniciar a campanha de imunização, que já começou bastante atrasada quando comparada a outros países. Além disso, o número de doses das vacinas é ainda muito pequeno e as perspectivas não são muito positivas dada a lentidão na imprescindível coordenação pelo governo federal. A figura 4 apresenta a evolução da vacinação em Pernambuco comparada com o país. 

Figura 4: Evolução da Vacinação

O plano de vacinação do estado foi divulgado ainda no dia 13 de janeiro, indicando os grupos prioritários de vacinação, começando pelos profissionais de saúde e passando para os idosos. Contudo, os dados na figura 4 mostram que, passadas duas semanas desde a distribuição das doses iniciais da vacina para os estados pelo governo federal no âmbito do Programa Nacional de Imunizações, apenas 1% da população do estado foi vacinada. O lado positivo da informação na figura é que o desempenho da imunização no estado, ainda que nesse estágio inicial, é superior à média do país. Contudo, estimativas do Monitora Covid-19 da Fiocruz é de que nessa velocidade levará 898 dias para que a população do estado de Pernambuco seja imunizada e a pandemia efetivamente controlada. Claro que com mais doses de vacinas e o avanço no plano é esperado que essa estimativa melhore. Contudo, se a pandemia nos ensinou algo, é que nem sempre a situação flui como é esperado. Pernambuco vem navegando a pandemia e isso pode dar a falsa sensação de que a situação está sob controle. Contudo, não está. Ainda estamos longe de estar fora da água. 

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