Este é o quinto texto da 4ª edição do especial “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil”, publicado entre os dias 24 e 28 de agosto na página da ABCP. Acompanhe!
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Minas Gerais: no estado em que menos investiu em saúde em 2020 a Covid-19 se alastra pelo interior
Nome dos(as) autores(as): Thiago Rodrigues Silame; Larissa Peixoto Gomes e Helga do Nascimento de Almeida
Instituições às quais os(as) autores(as) estão vinculados(as): Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL); Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)
Titulação: Doutor e doutoras em Ciência Política, titulados(as) pela Universidade Federal de Minas Gerais
Região: Sudeste
Governador (Partido): Romeu Zema (Novo)
População: 21.168.791 (IBGE, 2019)
Número de municípios: 853
Casos confirmados em 23/08/2020: 194.614
Óbitos confirmados em 23/08/2020: 4.790
Casos por 100 mil hab.: 904,7
Óbitos por 100 mil hab.: 22,4
Decreto estadual em vigor no dia 23/08/2020: Plano Minas Consciente
Índice de isolamento social no estado: 42,2%
* Por: Thiago Rodrigues Silame; Larissa Peixoto Gomes e Helga do Nascimento de Almeida
O governador de Minas Gerais parece viver em uma realidade paralela. Romeu Zema, em entrevista, afirmou: “Eu posso estar enganado, mas, para mim, minha opinião pessoal, é que daqui a um ano, quando nós fizermos uma retrospectiva, nós vamos ver que o Brasil, dentro de um contexto mundo, comparado inclusive com países desenvolvidos, não fez um trabalho tão ruim como muitos têm alardeado” [1].
Seguiu tecendo comparações com outros países e utilizou a Itália como parâmetro. A comparação entre Brasil e Itália considerou apenas o número de óbitos em valores absolutos. Se os dados são ponderados por milhões de habitantes, de fato a Itália apresenta um número superior de mortes, mas a mesma ponderação para número de casos mostra que o Brasil supera e muito o país europeu. Um outro dado não considerado por Zema é que a Itália é o segundo país do mundo em número de idosos, estando atrás apenas do Japão, grupo populacional que tem maior probabilidade de desenvolver a forma grave de doença e vir a falecer. Novamente, fica explícito o alinhamento do governador do Novo ao presidente Jair Bolsonaro.
Zema também vive em uma realidade paralela quando considera a situação do estado. Desde o mês de julho, Minas Gerais vem apresentando aumento no número de casos e de óbitos por covid-19 (Gráficos 1 a 4). Considerando estes números e a tendência de alta, não temos nem gasto mínimo constitucional na área da saúde (Tabela 1) e nem eficiência nos gastos. Um bom exemplo de ineficiência de utilização do dinheiro público por parte do governo de MG está relacionado à instalação e não funcionamento do Hospital de Campanha em BH que foi desativado no último dia 172. O hospital custou R$ 5,3 milhões aos cofres públicos.
A interiorização da pandemia no estado de Minas Gerais também impressiona (Mapa 1). De acordo com dados dos boletins, 97% (827) dos municípios registram casos de contaminação por covid-19, um aumento de 8,4% em relação ao mês de julho, e 56% dos municípios (456) já registram óbitos até esta data, um aumento de impressionantes 21,1% em relação a julho. A doença saiu da capital, Belo Horizonte, e avançou fortemente na região do Triângulo Mineiro, onde estão cidades como Uberaba, Uberlândia e Araguari.
É importante ressaltar que Minas Gerais é um dos estados com uma das mais altas taxas de subnotificação. Isso decorre em parte da falta de testes, assim como de mudanças na contagem feita pelo estado. Faltam detalhes nos dados, como sexo e cor/raça e etnia. Usando os dados do InfoGripe/Fiocruz, vemos que há uma alta “inexplicável” em casos e óbitos de Síndrome Respiratória Aguda Grave sem associação à covid-19 entre 2019 e 2020. Em 2019, foram 3.110 casos e 428 óbitos por SRAG e SRAG por influenza, durante o ano todo. Por sua vez, 2020, apresenta 18.689 casos e 3.141 óbitos (até a escrita deste artigo), uma alta que só pode ser explicada pelo avanço da covid-19 no estado e que não está notificada nos dados oficiais.
Assim como para Bolsonaro, Zema acredita que o principal problema ocasionado pela pandemia é a consequência econômica, e não o descontrole da covid-19. O governo parece estar mais interessado em emplacar o seu protocolo para reabertura de atividades econômicas, o Minas Consciente, programa que já passou por duas reformulações, por ser muito confuso nas suas formulações iniciais. Sendo assim, Minas Gerais continua seu caminhar pela pandemia sem saber exatamente onde está pisando, por onde está indo, qual caminho seguir ou qual seu destino. O que Zema parece não entender é que, enquanto estivermos neste mundo de incerteza sobre a pandemia, não há economia que aguente.
Referências bibliográficas:
[1] https://www.otempo.com.br/brasil/romeu-zema-considera-que-brasil-nao-esta-tao-ruim-no-combate-a-pandemia-1.2367714. Data de Acesso 20/08/2020.
[2] https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/08/17/interna_gerais,1176794/profissionais-do-hospital-de-campanha-vao-atender-unidades-da-fhemig.shtml. Data de Acesso: 20/08/2020.