ESPECIAL ABCP: As ações do Ceará no enfrentamento à pandemia

Este é o décimo oitavo texto da 5ª edição do especial “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil”, publicado entre os dias 8 e 12 de fevereiro na página da ABCP. Acompanhe!

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Ceará: idas e vindas do contágio pandêmico

Nome dos(as) autores(as) e instituição a que estão vinculados(as): Emanuel Freitas da Silva e Monalisa Lima Torres – Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Titulação dos(as) autores(as): Doutor em Sociologia; Doutora em Sociologia

Região: Nordeste

Governador (Partido): Camilo Santana (PT)

População: 8.843 habitantes

Número de municípios: 184

Casos confirmados em 01/02/2021: 375.024

Óbitos confirmados em 01/02/2021: 10.486

Casos por 100 mil hab.:  4.211,64

Óbitos por 100 mil hab.: 117,76

Data de início da vacinação: 19 de janeiro

Acesse aqui o Plano de vacinação do estado


* Por: Emanuel Freitas da Silva e Monalisa Lima Torres

Os números de casos e óbitos por covid-19 legou ao Ceará, por alguns meses, o posto de 3º lugar entre os estados brasileiros. Por isso, hospitais de campanha foram construídos, na capital e em algumas cidades do interior, para atender o maior número de infectados e medidas de restrição de circulação foram decretadas ainda em março (2020). Com a estabilização dos casos, o governo do estado elaborou um plano de retomada das atividades econômicas, que teve início no mês de junho, estendendo-se pelos meses seguintes. Como pontuamos anteriormente, os meses que se seguiram produziram na sociedade um clima de “já passou” com relação ao vírus, o que ampliaria quando o mês de outubro chegasse.

Ali, o estado somava 288.767 casos e 9.539 óbitos (31 de outubro), com índices de contaminação concentrados nas cidades de Fortaleza, Juazeiro do Norte e Sobral. Ocorre que o início da campanha eleitoral poria em xeque a necessidade das medidas de restrições sociais necessárias para a contenção da pandemia, produzindo inúmeras aglomerações, sobretudo em cidades do interior. Demorou muito para que o Ministério Público Eleitoral (MPE) e o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) proibissem a realização de atividades de campanha, o que aconteceria somente em 4 de novembro. A julgar pelos números de contaminação e de mortos, a medida foi tardia: 316.700 casos e 9.805 óbitos (31 de novembro). 

Figura 1 – Curva epidêmica de casos, óbitos e média móvel.

Junte-se a isso os inúmeros flagrantes de desrespeito ao isolamento social em bares, festas particulares e regiões litorâneas. Nesta seara, registre-se, o setor de turismo começou a recuperar-se, com a lotação de hotéis e pousadas para os mais importantes destinos turísticos do estado: Jeri, Canoa etc. 

O quadro tenderia a se agravar em dezembro, com a realização de confraternizações e festas de final de ano, para as quais o governo do estado decretou o limite de 15 pessoas. Medida que causou polêmica, sobretudo a partir do sentido dado ao decreto por opositores do governo, que o acusaram de “proibir as famílias de festejarem o Natal”. 

Retardando ao máximo a nova leva de medidas restritivas, o governador Camilo Santana não escondeu, em inúmeras entrevistas, sua preocupação com a crescente dos números, sobretudo em janeiro. Até mesmo a semanal reunião do comitê gestor da crise foi antecipada, o que acarretou, na frente de muitos estados, a suspensão das festividades de carnaval no calendário do estado e a proibição de uso das áreas de lazer em condomínios. 

Fonte: IntegraSUS/SESA

Os primeiros dias de 2021 foram marcados pela expectativa de vacinação num cenário de aumento no número de internações por covid-19. Em 16 de janeiro, o Ceará registrou 75,17% e 44,12% de ocupação de leitos de UTI e enfermarias, respectivamente. Apesar de nova determinação do governo para ampliação da rede de atendimento exclusiva para covid-19, com a reabertura de leitos na rede pública estadual, a taxa de ocupação de UTIs e enfermarias saltou para 80,7% e 56,9% (6 de fevereiro).

Em fins de janeiro, outro dado preocupante: a demanda de UTIs pediátricas para tratamento de covid-19 triplicou. O Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), referência em atendimento pediátrico, em 25 de janeiro contava com 25 UTIs, todas ocupadas com casos de covid-19. Além disso, houve aumento de infectados na faixa etária entre 20 e 39 anos, correspondendo a 48% dos novos casos. O que levantou a suspeita de que a nova variante do coronavírus já circulava em terras alencarinas. A Secretaria de Saúde do Ceará (SESA) investiga 61 casos de contaminação pela nova cepa.

Figura 3- Casos confirmados de Covid19 em Fortaleza

Na tentativa de conter a transmissão do vírus no Ceará, o novo decreto do governo, em vigor desde 3 de fevereiro, restringiu horário de funcionamento de atividades não essenciais (que devem encerrar às 20h durante a semana e às 15h nos fins de semana), provocando protestos de representantes e trabalhadores dos setores atingidos. A aprovação do Estado de Calamidade na Assembleia Legislativa aumentou a pressão. Líderes da oposição, fazendo coro aos segmentos econômicos afetados pelo novo decreto, contestam o rigor das medidas.  

Em resposta, Camilo Santana prometeu que anunciará, até a próxima semana, pacote de socorro aos segmentos mais afetados, sobretudo o de eventos. O que não impediu novo protesto (06/02). Trabalhadores que atuam em bares e restaurantes criticaram as medidas mais rígidas adotadas pelo governo. Segundo representantes da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em apenas três dias de exercício do novo decreto, o setor já registrou 980 demissões. 

Figura 4 - Mapa da taxa de contaminação

Com 126 municípios registrando taxas “altas” e “altíssimas” de contaminação e índice de isolamento social em 40% (Inloco de 5 de fevereiro), o governo, em parceria com as políticas e agências de fiscalização em todo o estado, tem intensificado a vigilância em estabelecimentos que descumpram os decretos e as medidas sanitárias. Em um final de semana (29 e 31 de janeiro), mil estabelecimentos foram vistoriados no Ceará. Na sexta-feira (29), registrou-se 227 estabelecimentos fechados, quatro notificados e cinco autuados. Todos por descumprimento dos decretos estaduais e/ou das medidas sanitárias que vão desde funcionamento e venda de bebidas alcoólicas após horário permitido, distanciamento entre as mesas até uso de máscaras. Registra-se também outros eventos com aglomerações encerrados pela PM em municípios do interior e região metropolitana.

Vacinação no Ceará

O primeiro lote de imunizantes (218 mil doses de CoronaVac) chegou ao Ceará em 18 de janeiro. A vacinação iniciou na quarta-feira (20) em todos os municípios cearenses. Até 5 de fevereiro, o estado registrou mais de 159 mil pessoas imunizadas, o que representa 64,2% do total de vacinas recebidas (334.900 doses). Segundo a SESA, 35 municípios imunizaram 100% do grupo da primeira fase de vacinação. No sábado (6), o Ceará recebe o quarto lote de vacinas (115 mil doses da CoronaVac), que serão destinadas às 1ª e 2ª doses para profissionais de saúde.

Figura 5- Grupos prioritários no Plano de Imunização do Ceará

O governo planeja ampliar os horários de vacinação (para 24h) e abrir outros pontos de vacinação drive-thru em Fortaleza (Arena Castelão e Cucas), além de contratar taxistas e motoristas de aplicativo para atuarem no transporte de idosos acima de 75 anos para os locais de vacinação.

Figura 6 - Distribuição de vacinas no Ceará (pr grupo prioritário)

Antes mesmo do recebimento das primeiras doses, a SESA já vinha negociando diretamente a aquisição de imunizantes com as empresas farmacêuticas Sinovac e Pfizer. Segundo a pasta, o governo do estado pretende adquirir mais 1,4 milhões de doses a fim de acelerar a cobertura vacinal dos grupos prioritários. Em paralelo, o estado vem adquirindo seringas, agulhas e comprou 147 câmaras refrigeradas, que serão distribuídas nos municípios cearenses.

Retorno das aulas na rede pública estadual

A Secretaria de Educação do Ceará (Seduc) confirmou o retorno das aulas na rede pública estadual de ensino em fevereiro. A pasta planeja um retorno escalonado e em formato híbrido. A opção pelo retorno híbrido coube às escolas em acordo com a comunidade considerando as especificidades de cada escola e município. Das 731 escolas estaduais, apenas 204 optaram pelo retorno híbrido (27,9%). A quantidade de alunos por sala deverá obedecer aos limites estabelecidos nos decretos estaduais. 

Para garantir o acesso dos estudantes ao ensino híbrido e reduzir a evasão escolar, o governo iniciou a distribuição de chips para 338 mil alunos da rede estadual, além da entrega de tablets para os alunos que estão ingressando no primeiro ano do ensino médio. Outros 9 mil alunos das universidades estaduais também serão contemplados com chips e tablets. Professores da rede pública estadual serão testados contra a covid-19. Ao todo, serão distribuídos 35 mil testes de biologia molecular (RT-PCR) aos 184 municípios.

Dados recentes

Desde o início da pandemia, o governo estadual já aplicou mais de 960 milhões de reais no enfrentamento à covid-19. O Ceará acumula 381.621 casos e 10.661 mortes por covid-19. A taxa de letalidade é de 2,8% (dados de 6 de fevereiro de 2021).

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