Este é o nono texto da 5ª edição do especial “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil”, publicado entre os dias 8 e 12 de fevereiro na página da ABCP. Acompanhe!
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Entre casos e vacinas: a pandemia da COVID-19 em Mato Grosso do Sul no ano de 2021
Nome dos(as) autores(as): Déborah Silva do Monte; Elaine Regina Prudencio Hipólito da Silva e Marcos Prudencio
Instituições às quais os(as) autores(as) estão vinculados(as): Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD); Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Titulação dos(as) autores(as) e instituição em que a obtiveram: Doutora em Relações Internacionais; Enfermeira Mestre e Doutorando em Geografia
Região: Centro-oeste
Governador (Partido): Reinaldo Azambuja (PSDB)
População: 2.809.394
Número de municípios: 79
Casos confirmados em 07/02/2021: 165.543
Óbitos confirmados em 07/02/2021: 3.012
Casos por 100 mil hab.: 5.892,48
Óbitos por 100 mil hab.: 107,21
Data de início do Plano de vacinação: 18 de janeiro de 2021
Acesse aqui o Plano de vacinação do estado
* Por: Déborah Silva do Monte; Elaine Regina Prudencio Hipólito da Silva e Marcos Prudencio
Mato Grosso do Sul inicia o mês de fevereiro de 2021 com 161.371 casos confirmados de covid-19. Destes, 2.921 chegaram a óbito, totalizando uma letalidade de 1,8%. No mês anterior, foram 27.260 casos confirmados, maior que todos os meses de 2020, exceto dezembro, atual pico da pandemia no estado com 34.700 casos.
A maior incidência de contaminação se encontra na faixa etária de 20 a 59 anos, a população economicamente ativa (PEA), sendo que 76,6% do total de casos pertence a esta estrutura da população. De certa forma, tais resultados se alinham à situação do país, que não possui restrições severas de distanciamento social e que tem a maior parte de sua população na PEA.
A análise do ano de 2020 expõe o seguinte cenário: Campo Grande ao final do último ano possuía 45% (61.945) dos casos confirmados em relação ao total do estado, seguida por Dourados com 11% (14.614), Corumbá com 5% (6.744) e Três Lagoas fechando o ranking com 4% (4.536).
As principais cidades em termos de Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso do Sul são também as líderes em número de infecções por covid-19. Podemos inferir, assim, uma relação causal em que uma maior PEA implica em maior circulação de pessoas e resulta em maior contaminação. Não é vista uma regressão do contágio, pelo contrário, a segunda onda de disseminação do vírus é maior do que o previsto.
Quando realizada uma análise comparativa dos números nos anos de 2020 e 2021, os municípios que lideram o ranking em contaminações no estado são os mesmos e na mesma ordem (quando considerados apenas os dados absolutos), sendo eles Campo Grande, Dourados, Corumbá e Três Lagoas. Em apenas um mês do presente ano, essas três localidades já possuem, respectivamente, 12%, 25%, 23% e 24% dos casos em relação ao ano de 2020.
Contudo, conforme demonstrado na Figura 1, é possível observar situações mais críticas uma vez que pequenos municípios, como Novo Horizonte do Sul, Japorã, Laguna Carapã e Ivinhema, já possuem mais da metade dos casos que tiveram em 2020 em apenas um mês de 2021. A maioria destes municípios se encontra localizada na mesorregião (e na microrregião de saúde) de Dourados, um problema preocupante considerando a possibilidade de agravamento do quadro clínico das pessoas infectadas culminando na necessidade de internação hospitalar e por vezes em unidades de terapia intensiva (UTI). Estando a assistência à saúde em alta complexidade concentrada em municípios maiores, é provável a transferência de pessoas para estes, o que poderá ocasionar na sobrecarga do sistema de saúde. Inclusive, é possível observar que a taxa de ocupação global (casos confirmados e suspeitos covid-19 e não covid-19) dos leitos de UTI na macrorregião de Dourados até 1º de fevereiro é de 89%. Conforme demonstrado na Figura 2, o pico de número de mortos em Mato Grosso do Sul chegou a 33 no dia 5 de janeiro de 2021.
As eleições de 2020: efeitos políticos
Nas eleições municipais de novembro de 2020, Marcos Trad (PSD) foi reeleito em primeiro turno à prefeitura da capital Campo Grande com 52,58% dos votos. A coligação de Trad reuniu partidos de diferentes imbricações ideológicas, do PCdoB ao Patriotas, e contou com o apoio do PSDB, partido do governador Reinaldo Azambuja.
Este evento ilustra o alinhamento político entre o governo do estado e a prefeitura da capital, observado também na gestão da pandemia. Ambos Azambuja e Trad criticaram as ações e as omissões do governo federal em relação à crise da covid-19 no ano de 2020. Destaca-se, nesse sentido, os posicionamentos favoráveis à aquisição da vacina da CoronaVac/Butantan pelo estado e pelo município mesmo quando o governo federal não tinha o Plano Nacional de Imunização e tecia críticas pouco fundamentadas sobre a vacina capitaneada pelo governo de São Paulo.
Os caminhos da vacinação
A vacinação em Mato Grosso do Sul foi iniciada em 18/01, um dia após a aprovação pela Anvisa do uso emergencial de doses das vacinas produzidas do CoronaVac/Butantan e da Fiocruz/AstraZeneca. O governo do estado tem seguido o Plano Nacional de Imunização, sendo que na primeira fase foram incluídos os trabalhadores da saúde, a população indígena aldeada e os idosos e deficientes institucionalizados. Em 29/01, os idosos maiores de 80 anos foram adicionados ao grupo prioritário da primeira etapa de imunização.
Na primeira fase a população estimada para ser vacinada é de 176.721 e a meta corresponde a 90% deste número (159.049). Até 05/02 foram aplicadas 71.688 doses, valor que corresponde a 45,07% da meta e a 2,55% da população do estado. O gráfico 1 mostra a distribuição das doses da primeira etapa de imunização entre os grupos prioritários, no período de 18/01 a 05/02.
Apesar das limitações causadas pela descoordenação nacional na gestão da pandemia, como o escasso número de doses atualmente disponíveis no país, Mato Grosso do Sul tem se destacado na execução do plano de vacinação. Considerando os dados referentes a 18 e 23 de janeiro, o estado lidera o ranking nacional de distribuição das vacinas contra a covid-19 nos municípios (86,8%).
Reforçamos a necessidade de medidas de controle e prevenção, mesmo com o relativo sucesso da vacinação no estado. De acordo com o Programa de Saúde e Segurança na Economia, apenas os pequenos municípios de Água Clara, Inocência e Selvíria estão em grau tolerável do risco de infecção pelo novo coronavírus.