Este é o oitavo texto da 5ª edição do especial “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil”, publicado entre os dias 8 e 12 de fevereiro na página da ABCP. Acompanhe!
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Quase 1 ano da pandemia da COVID-19 no Distrito Federal
Nome da autora e instituição à qual está vinculada: Michelle Fernandez, Universidade de Brasília (UnB)
Titulação: Doutora em Ciência Política
Região: Centro-oeste
Governador (Partido): Ibaneis Rocha (MDB)
População: 3.055.149
Casos confirmados em 05/02/2021: 280.026
Óbitos confirmados em 05/02/2021: 4.600
Casos por 100 mil hab.: 9.166,15
Óbitos por 100 mil hab.: 150,57
Data de início do Plano de vacinação: 19 de janeiro de 2021
Acesse aqui o Plano de vacinação do estado
* Por: Michelle Fernandez
Fazendo uma análise retrospectiva da atuação do governo distrital no enfrentamento da pandemia, podemos afirmar que tivemos uma atuação rápida e eficaz, no primeiro momento, mas que rapidamente deu lugar a decisões pouco respaldadas pela ciência e influenciadas diretamente pela posição negacionista do governo federal.
Em 28 de fevereiro, antes mesmo da confirmação do primeiro caso, o Governo do DF (GDF) declarou, por decreto, situação de emergência de saúde pública em virtude do risco de pandemia por coronavírus. Na mesma semana da divulgação do primeiro caso de infectado, o GDF decretou as primeiras medidas de enfrentamento da pandemia. Nesse primeiro pacote de medidas, editado no dia 11 de março, já foram suspensas aulas em escolas e universidades, públicas e privadas. Essas medidas foram consideradas, a priori, exageradas, tendo em vista que o DF tinha apenas um caso confirmado e um outro caso suspeito. No entanto, hoje, com o avanço da epidemia, avalia-se a decisão do GDF naquele momento como acertada. Nos primeiros meses de pandemia no Distrito Federal, tivemos um R(t) superior a 3, o que indica que o contágio no DF naquele momento era extremamente acelerado, justificando a opção por medidas enérgicas para a contenção da pandemia.
Para analisarmos a atuação do governo de Ibaneis Rocha ao longo deste primeiro ano de pandemia, necessitamos observar as ações agrupadas em três categorias: recomendação ou determinação do isolamento e do distanciamento social; ampliação da capacidade de atendimento dos serviços de saúde; e ações de saúde pública mais clássicas para enfrentamento a epidemias, como mapeamento e vigilância dos casos suspeitos e confirmados.
Entre as recomendações para o distanciamento social estão: suspensão das aulas, fechamento do comércio, fechamento de bares e restaurantes, restrição de funcionamento das agências bancárias, proibição de aglomerações de qualquer natureza, entre outras. O início dessas ações no Distrito Federal ocorreu durante a segunda e a terceira semanas de março, muito antes de serem discutidas e adotadas pela grande maioria dos estados. Porém, essas medidas sofreram fortes investidas contrárias à sua permanência, sobretudo pelo empresariado do DF e pelo discurso do governo federal, principalmente externado pelo presidente da República. A partir de maio de 2020 as medidas de distanciamento social foram relativizadas e, mesmo com o retorno do aumento de casos em dezembro de 2020, não voltaram a ser uma prioridade para o GDF no enfrentamento à pandemia.
Sobre o aumento da capacidade dos serviços de saúde, o Governo do Distrito Federal atuou ao longo do ano para ampliar o número de funcionários na saúde, fazendo novas nomeações de profissionais aprovados em concurso. Além disso, ampliou a oferta de leitos na rede de saúde do DF com o início do funcionamento do hospital de campanha no Estádio Mané Garrincha e o aumento de leitos em outras unidades de saúde. No primeiro pico de contágios, em julho de 2020, as UTIs do DF colapsaram e chegamos a enfrentar filas para conseguir leitos. Atualmente, com o novo aumento de casos, preocupa a possibilidade de enfrentarmos uma situação semelhante a julho, uma vez que muitos leitos destinados a paciente covid-19 foram desmobilizados em função da diminuição de casos que aconteceu entre agosto e novembro.
Por fim, com relação às ações de vigilância epidemiológica, o GDF realizou durante o ano de 2020 a testagem de pacientes que apresentam sintomas respiratórios. Em abril, tivemos uma ampliação da capacidade de testagem. A priori, os testes eram realizados nos serviços de drive-thru. Em maio, com número insuficiente de testes para manter esse serviço em funcionamento, o GDF instituiu o modelo itinerante de testes, concentrando a testagem em locais de acordo com calendário previamente estabelecido. Essa diminuição na capacidade de testagem dificultou a tentativa de mapeamento da situação da epidemia em Brasília e suas cidades satélites. Em meados de 2020, o GDF recuperou sua capacidade de testagem e melhorou a qualidade dos testes fornecidos e do modelo de testagem. A testagem para casos suspeitos de covid-19 passou a ser realizada nas Unidades Básicas de Saúde e os testes utilizados eram, na sua maioria, testes PCR, em detrimento dos testes rápidos usados no início da pandemia.
A evolução dos casos de covid-19 no Distrito Federal (Gráfico 1) apresentou queda sustentada entre agosto e novembro de 2020. No entanto, a partir de novembro temos um aumento do número de novos casos ao longo do tempo. A curva aponta para o avanço da pandemia rumo ao segundo pico de números de casos e mortes.
Em meio aos receios pelo avanço da segunda onda, temos uma fagulha de esperança que vem acompanhada do inicio da vacinação contra covid-19. A vacinação começou no Distrito Federal no dia 19 de janeiro de 2021.O DF é a unidade da federação que tem a maior porcentagem da população vacinada, cerca de 3%. Ao todo, até 5 de fevereiro de 2020, o DF recebeu mais de 166 mil vacinas: 125.160 doses da CoronaVac e 41.500 doses da Oxford/AstraZeneca. Dessas doses, 56% já foram aplicadas. Estão sendo vacinados profissionais de saúde e idosos acima de 80 anos. A vacinação está acontecendo em 41 pontos de vacinação e em 12 postos de atendimento em carros (drive-thru).
Ainda que saibamos que estamos diante de novos desafios no enfrentamento à covid-19, diferentemente do que aconteceu em março de 2020, as propostas governamentais no DF para lidar com o aumento de casos é inconsistente e desestruturada. Não há medidas enérgicas para frear o avanço da segunda onda, a mobilização de leitos para pacientes com coronavírus está desestruturada e estamos diante de profissionais exaustos depois de atuarem um ano no front desta pandemia. A vacinação contra o coronavírus, nossa única fonte de esperança, ainda caminha a passos lentos. Sabemos que estamos diante de um novo ano difícil.