Este é o vigésimo sexto texto da 4ª edição do especial “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil”, publicado entre os dias 24 e 28 de agosto na página da ABCP. Acompanhe!
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Piauí: reabertura das atividades em meio à pandemia de Covid-19
Nome do autor e instituição a que está vinculado: Vítor Eduardo Veras de Sandes-Freitas – Universidade Federal do Piauí
Titulação do autor e instituição em que a obteve: Doutor em Ciência Política (UNICAMP)
Região: Nordeste
Governador (Partido): Wellington Dias (PT)
População: 3.273.227
Número de municípios: 224
Casos confirmados em 26/08/2020: 75.160
Óbitos confirmados em 26/08/2020: 1.765
Casos por 100 mil hab.: 2.296,20
Óbitos por 100 mil hab.: 53,92
* Por: Vítor Eduardo Veras de Sandes-Freitas
No primeiro artigo sobre o estado publicado nesta série, o Piauí contava com 8.823 casos e 299 óbitos confirmados até 10 de junho. Pouco mais de um mês depois, o Piauí passou a contar com 36.542 casos confirmados e 1.043 óbitos, segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado do Piauí (SESAPI) de 15 de julho. No dia 26 de agosto, o número de casos confirmados, praticamente, dobrou em relação ao segundo artigo, e é mais de nove vezes maior do que os dados de 10 de junho, atingindo 75.160 casos. O total de óbitos atingiu 1.765, 722 a mais do que o segundo artigo publicado mês passado.
De 10 de junho até 15 de julho, houve um aumento de mais de 400% no número de casos e de mais de 300% no de óbitos. Já de 15 de julho a 26 de agosto, o aumento no número de casos foi de mais de 200% e mais de 150% no número de óbitos, o que indica uma diminuição no número de casos confirmados de mortes em comparação com o período anterior analisado (de junho a julho). A redução da intensidade de espalhamento da covid-19 no Piauí tem justificado medidas de flexibilização das medidas de isolamento social, iniciadas em julho.
Segundo dados da SESAPI referentes a 26 de agosto, 96,6% dos 224 municípios piauienses têm casos confirmados de covid-19, sendo que em 70,1% existem óbitos confirmados [1], corroborando com o argumento do Comitê Científico do Consórcio Nordeste que, nos últimos boletins, tem alertado para a interiorização da doença no Nordeste. No artigo do mês passado, menos de 50% possuíam óbitos confirmados no estado do Piauí. Isso quer dizer que a pandemia se interiorizou no estado, atingindo quase todos os municípios piauienses, confirmando também a preocupação, exposta no artigo anterior desta série, de que existia margem para a ampliação do número de óbitos no estado, mesmo que com menos intensidade no agregado.
No entanto, o índice de transmissibilidade do novo coronavírus no estado, segundo o Painel Epidemiológico da SESAPI, tem estado em patamares menores do que no mês de maio e do que no final de junho, em que foram observados picos, de quase 3,0 em maio e de 1,8 no dia 20 de junho. Segundo a última informação disposta no Painel da SESAPI, a taxa estava em 0,74 no dia 18 de julho, sem atualizações mais recentes. Ou seja, pelos últimos dados, cada 100 infectados eram capazes de transmitir para outras 74 pessoas.
Com isso, o Pacto de Retomada Organizada, em 8 de junho, que flexibilizava as medidas de isolamento social, por meio do decreto nº 19.014/2020, pode ganhar contornos mais claros a partir de julho e de agosto, com medidas de flexibilização das atividades econômicas. Para além dos decretos, em julho, retornaram as atividades de maior impacto na economia, como construção civil e o comércio, e, mais recentemente, em agosto, shopping centers, bares e restaurantes e as academias.
O calendário define todas as flexibilizações estabelecidas pelo Pacto de Retomada, de 6 de julho a 22 de setembro, começando, na primeira semana, pelos setores de maior impacto na economia (construção civil, por exemplo) até os de menor impacto (reabertura de escolas). A previsão é que a maior parte das atividades retornem dentro deste período, apesar de que existe um intenso debate sobre o retorno das aulas presencialmente.
Apesar da redução da transmissibilidade, não é possível precisar como ficaria a situação caso haja o retorno às aulas nas escolas do estado. O exemplo de outros países indica que, se retornar, o melhor a ser feito é retomar por grupos, de forma gradual, permitindo acompanhar a difusão da doença nos municípios e no estado, com protocolos rígidos dentro das escolas. A questão que se coloca diante disso: é possível garantir que isso seja executado com segurança nas escolas públicas e privadas nos 224 municípios do estado?
Os dados têm mostrado que a ocupação de leitos de internação vinha em um movimento ascendente até meados de 26 de junho, mantendo-se na faixa desde aquela data, com uma pequena variação descendente até 15 de julho. Desta data até o início de agosto, houve uma queda seguida por um período de estabilidade na ocupação de leitos de internação. Atualmente, 52,9% dos leitos de internação estão ocupados. No caso dos leitos de UTI, atualmente há uma ocupação de 58,3% deles, com queda gradual na ocupação registrada a partir do final de julho (ver Painel Covid-19 da SESAPI) [1].
Com a queda do número de internações e, após o momento crítico da doença no estado, as atividades do Hospital de Campanha Estadual, localizado no Verdão (Ginásio Dirceu Arcoverde), foram encerradas, após três meses de funcionamento e o atendimento de 402 pacientes [2].
Ratificando o que já foi escrito nos dois primeiros artigos da série: “a situação da pandemia de covid-19 no estado do Piauí está longe de estar sob controle”. Estão sendo controlados os danos, garantindo o atendimento pelo sistema de saúde e retomando atividades econômicas, como tem sido feito em outros estados brasileiros. Leitos de internação e de UTI existem, mas, dada a flexibilização das atividades, o vírus continuará a circular no estado do Piauí.
Referências bibliográficas:
[1] Dados do Painel Epidemiológico Covid-19 – Piauí: https://datastudio.google.com/reporting/a6dc07e9-4161-4b5a-9f2a-6f9be486e8f9/page/2itOB