Este é o sexto texto da 3ª edição do especial “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil”, publicado entre os dias 13 e 17 de julho na página da ABCP. Acompanhe!
Este é o sexto texto da 3ª edição do especial “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil”, publicado entre os dias 13 e 17 de julho na página da ABCP. Acompanhe!
Para ler a análise sobre Minas Gerais publicada na última edição, clique aqui!
Para saber mais detalhes sobre essa série especial, clique aqui!
Minas Gerais e Covid-19: Depois da “bonança” veio a tempestade
Nome dos(as) autores(as): Helga Almeida e Thiago Silame
Instituições às quais os(as) autores(as) estão vinculados(as): Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL)
Titulação: Doutora e Doutor em Ciência Política, ambos titulados pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Região: Sudeste
Governador (Partido): Romeu Zema (Novo)
População: 21.168.791 (IBGE, 2019)
Número de municípios: 853
Casos confirmados em 10/07/2020: 70.086
Óbitos confirmados em 10/07/2020: 1.504
Casos por 100 mil hab.: 331,08 [1]
Óbitos por 100 mil hab.: 7,10 [2]
* Por: Helga Almeida e Thiago Silame
Se desde o começo da pandemia de Covid-19 havia um sentimento truncado de bonança no estado de Minas Gerais (MG) [3] [4], no mês de julho chegou a tempestade.
A situação de MG vem se complicando a olhos vistos e isso pode ser notado fazendo a comparação com os dados de nosso último artigo, “Minas Gerais: subnotificação e des(coordenação) entre estado, União e municípios no enfrentamento à Covid-19” [5] , publicado no compêndio de trabalhos contidos no dossiê “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil”, organizado pela pesquisadora Luciana Santana e pela Associação Brasileira de Ciência Política. Os primeiros dados foram coletados em 6 de junho de 2020 e os dados deste artigo foram coletados em 10 de julho de 2020.
Como se vê na tabela a seguir, há um quadruplicar de todas as medidas observadas sobre o avanço da Covid-19 em MG entre os meses de junho e julho de 2020. Em julho o número absoluto de casos em Minas Gerais quadruplicou em pouco mais de um mês passando para 70.086 casos, assim avançando quatro posições, de 12º para 8º, na listagem comparada dos estados brasileiros.
O número de óbitos também seguiu a mesma tendência e quadruplicou em Minas Gerais, chegando a 1.504 mortes e fazendo que MG avançasse três posições, de 13º para 10º na listagem de óbitos comparados entre estados brasileiros. Quando a métrica é o número de contaminações por 100 mil habitantes e o número de óbitos por 100 mil habitantes, também se observa um quadruplicar dos valores.
Nos gráficos dispostos a seguir se pode visualizar melhor o avanço da contaminação em Minas Gerais. Desde março os casos de Covid-19 vêm trilhando uma curva ascendente, no entanto foi em meados do mês de junho que a curva tornou-se mais oblíqua. Sendo que, a cada cinco casos de Covid-19 em MG, quatro foram registrados no mês de junho [6].
A comparação do registro de novos casos de contaminação diária por Covid-19 no gráfico abaixo também é relevante, já que indica que, em relação a MG, não se pode falar de forma nenhuma em estabilidade no espalhamento da doença.
A curva de contágio, como pode se observar, vem em uma crescente diária de casos. Dois marcos aqui são importantes, o primeiro no dia 3 de junho, data em que se registrou pela primeira vez o patamar de mais de 1.000 pessoas contaminadas em único dia em MG e um segundo marco em 24 de junho, data em que o patamar de 1.000 pessoas contaminadas por dia se fortaleceu e não mais decresceu, chegando em 26 de junho ao ápice de 6.122 contaminados em um dia.
A curva de óbitos em MG também segue em forte crescimento, como aponta o gráfico abaixo. Sendo que ela ganha uma inclinação maior em meados de junho de 2020.
Em relação aos registros de morte por Covid-19 no estado fica visível no gráfico abaixo que os números vêm trilhando uma crescente. A média de mortes diárias por Covid-19 em MG no mês de maio era de 6,1, em junho passa para 23,1 e nos dez primeiros dias de julho é de 53,9, com um pico de 90 óbitos de mineiras(os) no dia 9 de julho de 2020.
Nessa toada a interiorização da doença no estado vem ocorrendo a passos largos, dos 853 municípios mineiros, 756 tem registros de pessoas contaminadas por Covid-19 [7], o que corresponde a 88,6% das cidades de MG. Além disso, 34,9% dos municípios, o que corresponde a 298 cidades, registraram mortes por Covid-19 [8] [9] .
Governo de MG: Entre críticas ao governo federal e aos governos municipais
Romeu Zema, o governador de Minas, permaneceu até o dia 16 de junho alinhado com o presidente da República Jair Bolsonaro [10] nas questões relativas ao enfrentamento da Covid-19 no Brasil.
Nos meses de março e abril, Zema se contrapôs ao Fórum de Governadores e não subscreveu cartas que cobravam respostas mais precisas da União em relação à pandemia de Covid-19. Também em abril o governador mineiro chegou a visitar o presidente da República para discutir a situação fiscal de Minas, a resultante dessa conversa foi, entre outras, a construção de um protocolo de reabertura dos municípios mineiros pelo governo estadual, o “Programa Minas Consciente”.
Contudo, a falsa sensação de calmaria vivida por MG e insistentemente publicizada pelo governador mineiro, que salientamos em artigo para o Estadão em 18 de junho de 2020 [11], parece ter passado.
Diante de uma situação próxima ao colapso em Minas, em 17 de junho o governador mineiro reclamou da falta de coordenação nacional no combate à COVID-19, declarou que fazia falta um protocolo único para todos os estados e municípios e colocou que as sucessivas trocas de ministros da Saúde ao longo da pandemia prejudicaram as ações de combate ao coronavírus [12].
Ao mesmo tempo Zema segue o ataque político ao prefeito da capital mineira. Alexandre Kalil (PSD), que tem se distanciado das sugestões da União e do governo estadual em relação à Covid-19, mantendo Belo Horizonte sob medidas mais rígidas durante a pandemia, tem sido criticado por Zema desde o início da pandemia por diversos motivos, se antes pela rigidez das medidas, agora por supostamente não abrir leitos de UTI suficientes.
Fato é que Zema, diante da situação de caos pandêmico sentida em Minas Gerais a partir de junho, vem tentando fazer com que a culpa política da situação que o estado começa a viver não recaia sobre si. Para isso tem tensionado a crítica aos inimigos, como Alexandre Kalil e também a seus aliados, como Jair Bolsonaro.
Referências bibliográficas:
[1] Levantamento realizado pelo site https://covid19br.wcota.me/, de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa sob coordenação do pesquisador Dr. Wesley Costa, a partir de dados das secretarias de saúde estaduais.
Acesso em 10/07/2020.
[2] Fonte: https://covid19br.wcota.me/
[3] https://www.nexojornal.com.br/especial/2020/05/10/Como-os-governos-estaduais-lidam-com-a-pandemia
[4] https://cienciapolitica.org.br/noticias/2020/06/especial-abcp-acoes-minas-gerais-enfrentamento-pandemia
[5] https://cienciapolitica.org.br/noticias/2020/06/especial-abcp-acoes-minas-gerais-enfrentamento-pandemia
[6] https://www.otempo.com.br/cidades/quase-quatro-a-cada-cinco-casos-de-covid-19-em-minas-foram-registrados-em-junho-1.2355336
[7] Boletim Epidemiológico. Secretaria de Saúde de Minas Gerais. 11 de julho de 2020.
http://coronavirus.saude.mg.gov.br/images/boletim/07-julho/Boletim_Epidemiologico_COVID-
19_11.07.2020.pdf
[8] Boletim Epidemiológico. Secretaria de Saúde de Minas Gerais. 11 de julho de
2020.http://coronavirus.saude.mg.gov.br/images/boletim/07-julho/Boletim_Epidemiologico_COVID-19_11.07.2020.pdf
[9] Em 6 de julho de 2020 a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais modificou o procedimento para o registro de leitos ocupados no estado. O que reduziu quase em 20% as taxas de ocupação registradas.https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2020/07/06/ampliacao-de-leitos-e-mudanca-em-calculo-reduzem-
taxa-de-ocupacao-hospitalar-em-mg-diz-governo.ghtml
[10] https://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/minas-gerais-subnotificacao-baixa-testagem-
e-descoordenacao-entre-estado-municipios-e-uniao-no-enfrentamento-a-covid-19i/
[11] A falsa calmaria se devia principalmente a três elementos: i) mudanças na forma de registro de casos; ii) subnotificação de sintomáticos e óbitos e; iii) baixa testagem https://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/minas-gerais-subnotificacao-baixa-testagem-e-descoordenacao-entre-estado-municipios-e-
uniao-no-enfrentamento-a-covid-19i/
[12] https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2020/06/17/interna_politica,1157428/zema-reclama-por-falta-de-coordenacao-nacional-para-combate-a-covid.shtml