ESPECIAL ABCP: As ações do Paraná no enfrentamento à pandemia

Este é o terceiro texto da série de análises contextualizadas de cada um dos estados brasileiros, no especial “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil”, publicado entre os dias 8 e 12 de junho na página da ABCP. Acompanhe!

Este é o terceiro texto da série de análises contextualizadas de cada um dos estados brasileiros, no especial “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil“, publicado entre os dias 8 e 12 de junho na página da ABCP. Acompanhe!


O Paraná e a covid-19: na encruzilhada dos números

Nome dos(as) autores(as) e respectivas instituições às quais estão vinculados(as):

Luiz Fernando Vasconcellos de Miranda (UNILA); Rodrigo Rossi Horochovski (UFPR) e Maiane Bittencourt (UFPR)

Titulação dos autores e instituição em que a obteve: Luiz Fernando Vasconcellos de Miranda – Doutor em Ciência Política (UFF); Rodrigo Rossi Horochovski – Doutor em Sociologia Política – (UFSC); Maiane Bittencourt – Mestranda em Ciência Política (UFPR)

Região: Sul

Governador (Partido): Ratinho Júnior (PSD)

População: 11.433.957 (est. IBGE, 01/07/2019)

Número de municípios: 399

Casos confirmados em 06/06/2020: 6604

Óbitos confirmados em 06/06/2020: 232

Casos por 100 mil hab.: 48

Óbitos por 100 mil hab.: 1,9


* Por: Luiz Fernando Vasconcellos de Miranda, Rodrigo Rossi Horochovski e Maiane Bittencourt

Com um IDH-M de 0,792, o Paraná ocupa a quinta posição em desenvolvimento humano entre as unidades federativas do Brasil. Seus indicadores de expectativa de vida – 77,7 anos, sexta maior do país – e mortalidade infantil – taxa de 8,9 ‰, segunda menor – são melhores que as médias nacionais (respectivamente, 76 anos e 12,4 a cada mil nascidos vivos, segundo o IBGE) e podem ser tomados como proxies das condições sociais e sanitárias do estado. Esta breve caracterização permite-nos entender melhor como a infraestrutura e os indicadores sociais do estado auxiliam o enfrentamento da atual pandemia do coronavírus.

Neste relatório, usamos dados da Secretaria de Saúde do Paraná (SESA/PR) e notícias oficiais do governo do estado e da mídia. As análises têm dois enfoques: o primeiro são os números oficiais da Covid-19; o segundo discute, mediante outros indicadores, até que ponto tais números espelham o que efetivamente acontece no estado em relação à pandemia. Além disso, quando necessário, nos remetemos à cronologia recente do problema.

Quando olhamos o retrato atual, o Paraná se sai bem (gráficos 1 e 2). O estado está entre os menos afetados pelo coronavírus, seja no número de casos, seja de óbitos, mormente quando os números são relacionados à população.

Número absoluto de Casos e Óbitos por UF (6/6/2020)Número de casos e óbitos por cem mil habitantes (6/6/2020)

Constatação semelhante advém quando analisamos o estado isoladamente. Considerando a trajetória da covid-19 em uma perspectiva temporal, entre os primeiros casos e óbitos, registrados em março, até a segunda quinzena de abril, o Paraná vinha tendo um bom desempenho no controle da pandemia e de seu avanço. Isso pode ser observado no gráfico 3.

A disposição dos dados em escala logarítmica permite vislumbrar três tendências: crescimento acentuado até 6 de abril; até 16 de maio, redução do ritmo de aumento, tendente à desejada estabilização dos números que antecede a melhoria do cenário e com o chamado achatamento da curva; e, desse dia em diante, a curva ascendente começa a se acentuar lentamente.

Números absolutos de casos e óbitos – Paraná (em escala logarítmica)

Como se chegou a esta situação? O estado tomou providências importantes antes mesmo de registrar óbitos. As duas primeiras mortes no estado aconteceram em 27 de março. Duas semanas antes, no dia 12, quando o primeiro caso foi registrado, medidas começaram a ser tomadas, como a assinatura, pelo governador Ratinho Junior, de decreto proibindo eventos culturais e autorizando o trabalho remoto para parte dos servidores públicos. No dia seguinte, novo decreto suspendeu aulas nas escolas e nas universidades do estado. No dia 20 de março, o governo decretou estado de emergência, regulamentando atividades essenciais e determinando o fechamento do comércio. As principais cidades paranaenses, especialmente a capital, Curitiba, seguiram inicialmente a mesma linha de ação. 

Em suma, é possível dizer que em março e até meados de abril o Paraná agiu na contramão do próprio governo federal, conseguiu antecipar-se e evitou o quadro mais agudo que se instalou em outros estados. Como seria de se esperar, o estado busca capitalizar politicamente este bom desempenho. Como exemplo disso, no dia 19 de maio, a Agência Estadual de Notícias, órgão oficial de comunicação do governo do estado, publicou matéria sob o título “Paraná tem menor taxa de crescimento da Covid-19 do Brasil”.

Até aqui nos baseamos nos dados oficiais sobre a Covid-19. Há elementos, porém, que sinalizam os limites desta análise. Destacamos dois: o primeiro é a baixa testagem. Embora o estado tenha anunciado que iria ampliar significativamente o número de testes de detecção do coronavírus, os números seguem tímidos e, até o dia 4 de junho, foram realizados 3.082 testes/milhão de habitantes, segundo o Informe Epidemiológico da Secretaria de Saúde do Paraná (SESA/PR). É muito aquém dos países que mais testam no mundo (Portugal e Espanha, por exemplo, testam cerca de 50 mil/milhão).

Os indicadores gerais de mortalidade também são importantes nesta análise. Entre abril de 2019 e abril de 2020, houve um crescimento de 2.162 óbitos, fenômeno que acontece em todo o país, a despeito do isolamento social, que levaria a uma tendência de redução de certos tipos de óbitos, especialmente os provocados por causas externas (homicídios, acidentes de trânsito e trabalho, entre outros). 

Outro indicador sugere que os números da covid-19 podem estar sendo subestimados no Paraná: os óbitos registrados como de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). O gráfico 4 traz a comparação entre iguais períodos de 2019 e 2020.

COMPARATIVO DE MORTES SARG 2019 X 2020

O problema da dinâmica de combate ao Covid-19 é que agentes públicos paranaenses, principalmente nos executivos estadual e municipal, podem estar tomando decisões baseadas em números que não retratam fielmente a situação no Paraná. Nas últimas semanas, ocorreram vários movimentos de flexibilização do isolamento social e de reabertura do comércio.

Houve reuniões do governador com o empresariado para discutir regras de retomada e ações paulatinas de reabertura, como o estabelecimento de protocolos para cultos religiosos. É a resposta que os governos vêm dando a pressões tanto do governo federal, quanto de grupos e organizações representando setores econômicos. Resta saber se este caminho é o correto. Para isso, os números oficiais teriam de espelhar a real situação da covid-19 no Paraná. Os dados que analisamos aqui sugerem que isso pode não estar acontecendo.

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